segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ASPECTOS IMPORTANTES A SEREM CONSIDERADOS PELO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

Profª Maria Janaina Alencar Sampaio (Profª Assistente do DLCH/UFRPE)


Conhecer a natureza e o grau da perda auditiva é importante para todos os profissionais (Psicólogo, Professor, Fonoaudiólogo e outros) que lidam com o indivíduo surdo/deficiente auditivo, pois a partir deste conhecimento, o profissional poderá desenvolver ações de prevenção, intervenção e orientação. O Professor tem um papel importantíssimo no processo educacional da criança portadora de perda auditiva, seja de grau leve à profundo, seja ela permanente ou temporária. Um aspecto também a ser destacado é que o professor é “co-autor” no processo de habilitação/reabilitação fonoaudiológica que alguns destes indivíduos estão realizando. Sua convivência diária com a criança deficiente auditiva/surda faz com que ele seja o profissional que a conhece mais inteiramente e profundamente. Ele é o profissional mais habilitado a reconhecer a coerência entre um laudo audiológico e o seu comportamento diário. Um exame audiométrico traduz apenas uma perda auditiva - seu tipo, grau e local da lesão. A interpretação do audiograma (gráfico em que são marcadas as melhores respostas do indivíduo ao realizar o exame audiométrico) pode ser meramente diagnóstica. No entanto, ele pode auxiliar a mapear a perda auditiva e a entender suas conseqüências na vida daquela pessoa. Somado à história de vida (momento em que ocorreu a perda auditiva, a causa, o momento da descoberta da surdez, o impacto do diagnóstico, a dinâmica familiar, entre outros sinalizadores) é possível prever alguns aspectos comportamentais, lingüísticos e cognitivos desse indivíduo na sua vida como um todo. Ao lançar um olhar mais que diagnóstico, será possível ao professor se respaldar para desenvolver um trabalho em sala de aula que possibilite o desenvolvimento dos potenciais de cada indivíduo surdo/deficiente auditivo de maneira singular.

PERDA AUDITIVA
PERÍODO EM QUE OCORREU:

 Congênita: antes do nascimento  Antes da aquisição da linguagem oral
 Não congênita: antes ou depois da aquisição da linguagem oral

Quanto mais cedo a perda ocorrer, maior será a dificuldade de desenvolver a fala. Crianças que perdem a audição após algum tempo de estimulação sensorial auditiva apresentam um melhor desempenho no trabalho de intervenção, pois o córtex cerebral já foi estimulado, permitindo que a criança tenha desenvolvido uma memória auditiva.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO LOCAL DA LESÃO:

 Condutiva (orelha externa e/ou média), sensórioneural (orelha interna) e mista (orelha média + interna).

 Condutiva: caso não exista tratamento médico (cirúrgico) e for indicado AASI (aparelho de amplificação sonora individual = prótese auditiva = aparelho auditivo), a criança poderá apresentar um bom desempenho na discriminação auditiva (entender bem o que se fala), pois as células ciliadas estão preservadas, ou seja, não foram lesadas, uma vez que o problema se encontra na condução do som.
 Sensórioneural: dificuldade em discriminar os sons, mesmo com amplificação sonora (uso de prótese auditiva) adequada.
 Mista: Também há dificuldades de discriminar os sons, inclusive o da fala. O tratamento pode ser cirúrgico, revertendo parte do quadro, melhorando a discriminação dos sons. No entanto, as células que foram lesadas permanecerão com uma disfunção.

GRAU DA PERDA:

 O grau da perda vai ser fundamental no processo educacional e terapêutico. Quanto maior o grau, mais difícil da criança utilizar seu resíduo auditivo. Em perdas condutivas, esse fator é mais facilmente superado com amplificação adequada, porém em perdas sensórioneurais, mesmo que o AASI ofereça um bom ganho (amplificação), as células foram lesadas e quanto maior o número de células lesadas mais pobre será a discriminação do som.
 É de extrema importância que o educador tenha um certo conhecimento do que seu aluno é capaz de escutar com e sem AASI, quais os fonemas da fala que estarão mais comprometidos e quais os que serão mais fáceis de ser adquiridos.

Perdas auditivas leves:

 Algumas vezes não são diagnosticadas precocemente. A criança pode chegar à escola sem que a perda tenha sido detectada pelos pais e até concluir seus estudos sem que ninguém a perceba.
 Uma criança com uma perda leve (30 dBNA), sem o uso de amplificação sonora (prótese ou recursos auxiliares), pode perder 25 a 40 % dos “sinais” da fala, dependendo do nível de ruído do ambiente, da distância da fonte sonora e da configuração audiométrica (tanto maior a perda na área da fala – 500Hz, 1000Hz e 2000Hz, maior será a dificuldade de compreende-la).
 Quando a perda é de 40dB, quase 50% do que é dito em sala de aula é perdido (Mueller & Killon, 1990; Olsen, Hawkins & Van trassel, 1987).

AS PESSOAS COM PERDAS AUDITIVAS DE GRAU LEVE PODEM APRESENTAR:

 Dificuldade em compreender a fala à distância ou na presença de ruído de fundo, como muitas vezes é o caso da sala de aula e, conseqüentemente, poderá apresentar problemas escolares.
 Dificuldade em ouvir o som de fraca intensidade (baixo).
 Dificuldade em acompanhar conversações, dificultando o processo natural de aprendizagem da língua oral, ou do aprendizado de uma maneira geral.
 Dificuldade em perceber as diferenças entre os sons que constituem as palavras, principalmente aqueles que são semelhantes, resultando em trocas fonêmicas na fala (ex.: /p/ no lugar de /b/) e na escrita.
 Características comportamentais: fadiga (pois fazem mais esforço), falta de atenção/dispersão (pois não prestam atenção quando lhe falam e está voltada para outro interesse ou pessoa), irritabilidade (pois passam a ser cobrados por padrões que naturalmente não conseguem realizar), costuma pedir para repetir e procura sempre olhar no rosto de quem lhe fala.
 Embora a criança possa desenvolver sua linguagem oral de maneira espontânea, ou seja, sem ajuda de um especialista, as perdas auditivas leves podem causar grandes prejuízos à criança, especialmente no que diz respeito a sua escolarização, não devendo, portanto, serem subestimadas. Crianças com história de otite de repetição merecem uma atenção especial do professor. É importante destacar que sempre que seu ouvido/orelha se encontra infeccionado seu limiar de audição é rebaixado e também a discriminação dos sons. No processo tanto de desenvolvimento da linguagem oral como de aquisição da linguagem escrita é necessário que a criança perceba de maneira adequada os padrões lingüísticos convencionais da língua em aprendizagem. Cada fonema tem traços distintivos que os fazem deferentes um dos outros. Se a criança está ensurdecida, mesmo que temporariamente, ela não estará em condições, naquele momento, de distinguir essas diferenças e formar uma memória auditiva, o que poderá comprometer o seu desenvolvimento lingüístico e escolar. Em caso de suspeita de uma perda auditiva encaminhar para o otorrinolaringologista. Se há trocas fonêmicas encaminhar para o Fonoaudiológico. Seus estudos devem ser acompanhados de maneira cuidadosa e se necessário com a intervenção de um profissional que a auxilie de maneira mais individual.


Perdas auditivas moderadas:

 São perdas situadas entre 40 e 70 dB (decibéis). Como seus limites se encontram ao nível da percepção e compreensão da fala é necessária uma voz forte para que a pessoa possa compreender o que se está falando.
 80 a 100 % da conversação pode ser perdida com uma perda de 50dB (Mueller & Killon, 1990).
 A protetização é indispensável, pois ajudará a amplificar os sons da fala, permitindo um melhor desenvolvimento lingüístico e sócio-afetivo. Também será de grande valor na escolarização.
 Sem intervenção, a criança provavelmente apresentará um vocabulário restrito, fala distorcida, dificuldades na estrutura gramatical da fala, atraso escolar e, conseqüentemente, poderá apresentar dificuldades emocionais, comportamentais e sociais.

AS PESSOAS COM PERDAS AUDITIVAS DE GRAU MODERADO PODEM APRESENTAR:

 Dificuldade em compreender a fala à distância e principalmente na presença de ruído de fundo.
 Dificuldade em ouvir o som de fraca e média intensidade.
 Atraso de linguagem (pelo fato de perderem grande parte das informações que lhes são dadas durante os diálogos que acontecem entre a mãe/pai/parentes/quem cuida da criança e a criança).
 Alterações articulatórias / fala distorcida (pois não possuem o retorno auditivo de sua própria fala e conseqüente controle da intensidade - altura - e dos padrões articulatórios).
 Dificuldade em acompanhar conversações, dificultando o processo natural de aprendizagem da língua oral, do aprendizado de uma maneira geral e de sua socialização.
 Necessidade de uso sistemático de leitura oro-facial.
 Dificuldade de compreender frases mais complexas e mais facilidade em entender termos mais concretos.
 Dificuldade, na escolarização, no que diz respeito aos “artigos”, “conjunções”, “gênero e número dos substantivos e adjetivos”, etc. (Couto, 1985).
 São mais resistentes ao tratamento, pois pelo fato de ouvirem muitos sons da fala, acham que não precisam de ajuda e julgam que falam bem.
 Características comportamentais: fadiga (pois fazem mais esforço), falta de atenção/dispersão (pois não compreendem boa parte do que lhe está sendo dito), costuma pedir para repetir e procura sempre olhar no rosto de quem lhe fala.
 Esse grau de perda é passível de atendimento clínico, cirúrgico, fonoaudilógico e pedagógico especializado.

Perdas auditivas severas:

 Esta perda vai permitir apenas que a criança identifique alguns ruídos do ambiente, só percebendo (mas não significa que compreendendo) a voz muito forte.
 Sem amplificação e ajuda terapêutica, a fala não se desenvolverá. Com intervenção adequada, a criança poderá desenvolver a audição e a fala, e acompanhar uma escola de ouvintes. Porém, também poderá não apresentar um bom desempenho.

AS PESSOAS COM PERDAS AUDITIVAS DE GRAU SEVERO PODEM APRESENTAR:

 Dificuldade em compreender a fala independentemente da distância
 Dificuldade em ouvir o som de fraca, média e forte intensidade.
 Não desenvolvimento espontâneo da linguagem oral (pelo fato de perderem as informações que lhes são dadas durante os diálogos que acontecem entre a mãe/pai/parentes/quem cuida da criança e a criança).
 Alterações articulatórias / fala distorcida (pois não possuem o retorno auditivo de sua própria fala e conseqüente controle da intensidade - altura – e dos padrões articulatórios).
 Dificuldade no aprendizado de uma maneira geral.
 Dificuldade na socialização no mundo dos “ouvintes”.
 Necessidade de uso sistemático de leitura oro-facial.
 Dificuldade de compreender frases mais complexas e mais facilidade em entender termos mais concretos.
 Dificuldade, na escolarização, no que diz respeito aos “artigos”, “conjunções”, “gênero e número dos substantivos e adjetivos”, etc. (Couto, 1985).
 Dificuldade em acompanhar as aulas.
 Características comportamentais: fadiga (pois fazem muito esforço para manter uma situação dialógica), falta de atenção/dispersão (pois não compreendem o que lhe está sendo dito), sempre olhar no rosto de quem lhe fala.

Perdas auditivas profundas:

 Não escuta a maioria dos sons sem amplificação (não escuta a fala), porém a maioria apresenta resíduo auditivo que pode ser estimulado. O desempenho da audição e da fala dessas crianças vai depender de alguns fatores como:
 Configuração audiométrica: quanto mais resíduos auditivos, principalmente na área da fala – o que não é comum nesse tipo de perda – maior a possibilidade de se reeducar auditivamente e desenvolver uma fala compreensível.
 Época da intervenção: quanto mais cedo iniciar o tratamento, maiores as chances de desenvolver a linguagem oral.
 Tipo de intervenção: Há vários métodos de reabilitação. Suas propostas se diferenciam, proporcionando respostas distintas.
 Qualidade da amplificação: uma boa indicação e adaptação do aparelho auditivo são fundamentais para seu desenvolvimento lingüístico.
 Ausência ou presença de outras alterações: deficiência visual (vai dificultar ou impedir a leitura oro-facial), deficiência mental, déficit motores.
 Investimento da família e da própria criança.

AS PESSOAS COM PERDAS AUDITIVAS PROFUNDAS PODEM APRESENTAR:

 Dificuldade ou impossibilidade de compreender a fala independentemente da distância e da intensidade (altura).
 Dificuldade e até impossibilidade de ouvir o som de fraca, média e forte intensidade.
 Não desenvolvimento espontâneo da linguagem oral (pelo fato de perderem as informações que lhes são dadas durante os diálogos que acontecem entre a mãe/pai/parentes/quem cuida da criança e a criança).
 Alterações articulatórias / fala distorcida (pois não possuem o retorno auditivo de sua própria fala e conseqüente controle da intensidade - altura – e dos padrões articulatórios).
 Dificuldade no aprendizado de uma maneira geral.
 Dificuldade na socialização em relação ao mundo dos “ouvintes”.
 Necessidade de uso sistemático de leitura oro-facial.
 Dificuldade de compreender frases mais complexas e mais facilidade em entender termos mais concretos.
 Dificuldade em acompanhar as aulas.
 Dificuldade na aquisição da leitura e da escrita, pois não possuem o modelo auditivo sonoro para que possam representar graficamente o som.
 Dificuldade, na escolarização, no que diz respeito aos “artigos”, “conjunções”, “gênero e número dos substantivos e adjetivos”, etc. (Couto, 1985).
 Boa habilidade para desenhar e para a matemática
 Características comportamentais: fadiga (pois fazem muito esforço para manter uma situação dialógica), irritabilidade (por se sentirem não compreendidos e discriminados), falta de atenção/dispersão (principalmente se não lhe oferecem as condições adequadas para que o diálogo aconteça. Ex.: o interlocutor falar de lado ou sem articular com precisão), sempre olha no rosto de quem fala.
 No passado acreditava-se que o surdo, pelo fato de não ouvir, estava cognitivamente incapacitado. Sem dúvida, grande parte das informações advém do mundo sonoro e a linguagem possui uma função estruturante no desenvolvimento das formas superiores do pensamento humano (por exemplo, no raciocínio lógico). É possível, sim, que alguns Surdos possuam um atraso no desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, mas isto não significa que ele tenha um déficit intelectual. A língua de sinais, por exemplo, é também um veículo para o seu desenvolvimento cognitivo. Não só a língua oral tem essa capacidade de desenvolver a cognição humana. Como professor, é fundamental estarmos atentos aos possíveis meios de estimular a cognição do indivíduo surdo e a alguns cuidados que podemos ter para facilitar esta comunicação.

Perdas Auditivas Unilaterais:

 Classifica-se por uma orelha com audição normal e uma orelha com perda auditiva.
 50% das crianças com perdas unilaterais apresentam dificuldades educacionais (Bess, Klee, Culbertson, 1986).
 Crianças com perdas unilaterais apresentam dificuldades em discriminar a fala em ambientes ruidosos (Flexer, 1999).
 Podem apresentar as seguintes características emocionais: dispersão, frustração, pouca independência, pouca atenção (Culbertson & Gilbert, 1986; Oyler, Oyler& Matkin, 1988).
 Na maioria dos casos as manifestações comportamentais são mais óbvias do que as manifestações auditivas (Cargill & Flexer, 1991).
 Perdas unilaterais podem ser subestimadas e, muitas vezes, não são percebidas até que a criança apresente dificuldades escolares e que uma investigação seja realizada.
 A Intervenção, algumas vezes, consiste na adaptação de um tipo de aparelho auditivo especial (CROSS), Sistema FM para sala de aula (enfatiza a fala ao cortar ruído de fundo), orientação aos pais, reforço escolar, acompanhamento audiológico e algumas vezes acompanhamento fonoaudilógico (linguagem).


Perdas Progressivas:

 Acompanhamento audiológico para monitorar o avanço da perda.
 Reabilitação auditiva em maior freqüência.
 Uso de AASI mais sofisticado para que ajustes no ganho possam ser realizados sem haver a necessidade de uma nova compra.

ALGUMAS ORIENTAÇÕES:

 O profissional que trabalha com crianças com perda auditiva deve primeiro conhecer o desenvolvimento de linguagem oral natural em crianças ouvintes.
 Algumas aulas podem ser planejadas a partir das atividades diárias da criança como refeições, vestiário, feriados, família, etc.
 Se for possível, verificar o que o fonoaudiólogo está trabalhando para levar-se em consideração também em sala de aula. O trabalho interdisciplinar tem muito a oferecer a criança.
 Importante trabalhar com material concreto, principalmente com crianças pequenas.
 Estabelecer situações de comunicação, dentro de contextos.
 Cuidado ao trabalhar com repetições! Pode ser um bom instrumento de trabalho, porém deve ser administrado para que as aulas não se tornem desmotivantes para a criança.
 As mesmas atividades podem ser utilizadas com crianças de diversos níveis de linguagem oral, é preciso apenas aumentar o grau de complexidade da atividade.
 A participação dos pais pode ser interessante, pois eles poderão ser orientados a como trabalhar em casa com a criança, e poderão acompanhar seu progresso mais de perto.
 O trabalho com o uso de leitura (livros, revistas) pode incentivar e aperfeiçoar o uso do Português.
 Também é recomendado o acompanhamento emocional da criança e, se necessário e possível, encaminhar ao psicólogo.
 Converse com os pais do seu aluno que tem perda auditiva. Verifique se eles sabem do problema e estão procurando algum tipo de ajuda;
 Seja sempre paciente. Em alguns casos é preciso falar de frente para que a criança compreenda você. Mas mesmo com uma pequena ajuda ela já será capaz de aprender;
 Estimule as amizades entre esta criança e as outras;
 A criança com perda auditiva leve ou severa, permanente ou temporária, deve sentar-se o mais perto possível do(a) professor(a);
 Não deixar a criança sentada diante da janela, pois ela pode precisar de apoio visual, ou mesmo recorrer à leitura orofacial para melhor entender a situação. A iluminação deve ser um fator favorável à criança; portanto deve destacar o professor e os colegas e vir por detrás da criança surda;
 Não posicionar a criança junto da parede, devido ao efeito de reverberação (reflexão do som nas paredes);
 Não posicionar a criança junto a portas e janelas, devido ao ruído externo;
 Se a criança usar aparelho para surdez, pergunte à mãe como funciona e se as baterias são trocadas regularmente. Enfim cuide você também para que haja sempre um aproveitamento máximo do aparelho;
 Agir com calma é fundamental se a criança tiver dificuldade para entender você;
 Fale olhando diretamente nos olhos da criança; fale próximo da criança;
 Fale um pouco mais devagar do que o normal, usando articulação normal e não exagerada.
 Fale usando frases curtas e simples. Não apresente os vocábulos isolados; introduza-os sempre em uma estrutura frasal;
 Não grite, fale claramente sem elevar a voz;
 Se muitos falam ao mesmo tempo e a criança parece perdida, ajude-a com palavras simples e explicativas; tente diminuir o ruído ambiental ao falar;
 Reforce o conteúdo da fala, sempre que possível, com recursos visuais ou por escrito;
 Lembre-se de não falar quando estiver de costas para os alunos, escrevendo no quadro negro – fale sempre de frente e de forma clara;
 Segure e toque a criança adequadamente: evite tocá-la, puxá-la ou agarrá-la para conseguir sua atenção. Nunca a segure pelo queixo para que olhe para você. Espere seu olhar. Funciona bem melhor do que fazer ela olhar para você.
 Use primeiro a voz para chamar a atenção: é preciso dar-lhe chance de usar a audição. Chame-a pelo nome até três vezes. Caso não responda, utilize recursos visuais para chamar sua atenção e diga-lhe que a chamou. Nunca a cutuque;
 Use movimentos corporais, toques, gestos apropriados para chamar a atenção da criança: caso não consiga a atenção auditiva da criança, use os movimentos e os gestos sempre associados à fala para chamar sua atenção para aquilo que você está querendo mostrar. Faça um gesto indicando o que você está fazendo, e sempre diga alguma coisa quando a criança olhar;
 Dê um tempo de “espera”: ao falar com a criança ou produzir qualquer ruído, dê um tempo para que a informação auditiva seja processada. É fundamental a espera. Não se esqueça de que o silêncio também trazem informações;
 Desenvolva a atenção auditiva e a comunicação oral nas atitudes do dia-a-dia: use sons para conseguir a atenção da criança. Não se limite a chamá-la pelo nome. Aproveite as atividades de rotina para fazê-la perceber os diferentes tipos de som.
 Fale sobre coisas interessantes às crianças: fale sobre o que a criança está interessada no momento e vá ampliando os interesses gradativamente. Procure atividades, jogos e brincadeiras que a estimulem e que sejam interessantes e adequadas à sua idade.
 Seja sensível a capacidade de atenção da criança: não se esqueça de que uma criança surda pode ser um bebê auditiva e linguisticamente. Portanto, ela necessita ser tratada de acordo. A criança consegue se manter mais atenta às produções de fala que tenham conexão com a situação que está vivenciando;
 Deixe a criança surda ver o seu rosto de frente;
 Tenha certeza de que seu rosto esteja sempre iluminado: fique em ambientes claros. Não fale com a mão cobrindo a boca, nem quando estiver fumando ou mastigando. Além disso não use óculos escuros, pois os olhos e a expressão são fontes de informação;
 Tenha certeza de que seu rosto está no mesmo nível visual: fique de 50cm a 1m da criança. O surdo precisa ver o rosto de quem está conversando;
 Use expressões faciais e entonações ricas: as expressões devem corresponder às ações. Se você falar do perigo dando risada, a criança não entenderá. A mensagem torna-se confusa;
 Use gestos naturais com as mãos: os gestos não substituem a linguagem oral, são sistemas diferentes. Mas como a comunicação envolve movimentos do corpo, mímica, expressão facial, esses recursos podem ser usados para que a mensagem chegue até a criança. O gesto deve ser um apoio, caso a criança não entenda a linguagem oral. Portanto o gesto deve sempre estar acompanhado da linguagem oral.
 Deixe os lábios descobertos, evite o uso de barba e de bigode, pois eles dificultam a comunicação, já que impedem a criança de acompanhar o movimento dos lábios durante a emissão dos sons da fala;
 Comunique-se de maneira positiva: transmita a mensagem de forma calorosa e positiva e procure estar próximo a criança, comportando-se de maneira amorosa, acolhedora e alegre. Esteja totalmente disponível para interação;
 Procure reconhecer as tentativas de comunicação da criança: demonstre a criança que ela está sendo compreendida. Quanto mais os adultos se tornarem habilidosos para entender o que a criança tem a dizer, mais ela mostrará interesse em se comunicar. Quando se tenta entender a criança, ela percebe que ao se comunicar, alguma coisa acontece. Faça com que ela perceba que pode ser compreendida, será reforçador. As respostas às tentativas de comunicação podem ser dadas por meio de um sorriso, de palavras, de concordância com a cabeça, de gestos ou aproximações.
 Fale sobre o aqui e o agora: fale sobre o que você está fazendo, sobre o que a criança está fazendo, sobre os objetos e ações que ela está olhando e experienciando. Em resumo, fale sobre as coisas que estão ocorrendo dentro de um contexto significativo para a criança;
 Respeite o ritmo e os interesses da criança: brinque e fale seguindo o ritmo de desenvolvimento da criança. Fique atento à quantidade de informação que ela pode absorver naquele determinado momento. Tente acompanhar e se ajustar ao tempo de desenvolvimento próprio de cada uma;
 Crie condições para que a criança comunique, por meio de palavras corretas, aquilo que ela quer expressar: aproveite as oportunidades para dar linguagem à criança. Exponha-lhe as palavras que acompanham as ações. Traduza-as para a linguagem oral. É importante dar-lhe a linguagem que necessita, no momento em que ela necessita. É a maneira de transformar a comunicação não verbal em verbal. Por exemplo: se a criança aponta o filtro, pegue imediatamente o copo e pergunte-lhe: “Você quer água? Eu vou dar água a você”. É uma maneira de reconhecer e interpretar o que a criança quer dizer;
 Enfatize a imitação: outra forma de aprender a linguagem é por meio da imitação. Geralmente as crianças gostam de fazer imitações, o que pode se tornar uma brincadeira agradável. Pais e professores devem incentivar a criança a imitar sons produzidos por carros, animais, tosse, espirro e fala. É importante que o adulto também imite as produções infantis das crianças, mesmo que não tenham significado. O que se espera é estabelecer o jogo da imitação. A imitação é normal e importante para a interação adulto-criança;
 Responda à comunicação da criança: uma das maneiras mais efetivas de continuar a conversa e responder é incluir uma questão ou um comentário, encorajando e possibilitando outras respostas da criança;
 Use repetições: uma criança surda precisa ouvir uma palavra várias vezes para entendê-la. Precisa de muitas repetições, que todavia devem ser feitas no momento certo, em contexto significativo. Sempre que possível, apresente a criança o modelo de linguagem, mas se exigir repetição por parte dela;
 Não use diminutivos ou fala infantilizada: procure não usar diminutivos para que as palavras não se tornem mais extensas nem tenham todas a mesma terminação: “inho(a)”. Isto pode confundir e dificultar a fala. A fala infantilizada apesar de parecer carinhoso, trata-se de um péssimo modelo para as crianças, principalmente no início do processe de aquisição da linguagem oral;
 Mantenha um diálogo: evite verbalizar o tempo todo. Permita que a criança tenha sempre a sua vez na troca de comunicação. Lembre-se de que silêncio também é comunicação. Não fale da criança e sim com ela. Faça perguntas, dê instruções. Faça comentários. Dê-lhe um tempo para que possa processar a mensagem e respondê-la. Crie pausas com expectativa de encorajar a sua resposta. Deixe-a ser responsável pela comunicação;
 Use a palavra-chave na mudança de assunto: indique a mudança de assunto no diálogo. Algumas pessoas usam uma palavra-chave para mudar de assunto. Também pode ser usado um gesto ou uma simples explicação;
 Forneça informações: crianças pequenas fazem muitas perguntas. A criança surda é tão curiosa como qualquer criança ouvinte. Uma expressão facial ou olhadela são formas de a criança procurar informação. Procure fornecer a criança às informações de que necessita. Muitas vezes a compreensão da linguagem é maior do que a capacidade de expressão;
 Avalie o nível de resposta da criança: esteja atento ao nível de resposta que a criança é capaz de dar. Caso ela tenha dificuldade de uma tarefa particular, trabalhe com algo mais básico. Não exija da criança respostas que ela ainda não pode fornecer;
 Procure não causar frustrações: observe as frustrações que a criança demonstra por não poder se comunicar e estabeleça uma hierarquia de necessidades. Só trabalhe uma tarefa específica caso sinta que a criança tenha a capacidade de desenvolvê-la. Só passe a tarefas mais complexas à medida que haja condições para isso. O aprender deve motivar a criança e não lhe trazer frustrações. Esteja atento ao perigo do excesso de exigência;
 Procure não ser ansioso: tente ser o mais natural possível no momento da comunicação. Caso a criança não dê a resposta esperada procure manter-se relaxado. Não crie ansiedade na criança, não lhe transmita senso de frustração por ter falhado na resposta;
 Deixe-a tentar se comunicar e pedir o que quer: não atenda prontamente. Espere que ela diga a você o que está querendo. Diminua a ansiedade de atendê-la prontamente;
 Conserte: tratando-se de uma criança mais velha, caso não entenda o que ela tentou falar, não tenha medo de dizer que não entendeu. Ao dizer-lhe que não foi entendida, ela provavelmente tentará melhorar sua produção de fala. Assim, também aprenderá a usar a mesma estratégia caso não entenda o outro. Essa estratégia de consertar vale para os dois lados; afinal, a comunicação se dá pelos dois pólos.

Enfim a aliança entre terapeuta, família e escola é de fundamental importância para o pleno desenvolvimento da criança surda. Se todos estiverem aliados objetivando incentivar e apoiar a criança surda nas suas dificuldades e conquistas, poderemos reduzir as conseqüências da surdez possibilitando que a criança se desenvolva da melhor forma possível.


FONTES CONSULTADAS:

1) BRASIL. Governo Federal e col. A audição de seus alunos: cartilha do professor. Campanha quem ouve bem aprende melhor 1999.
2) BEVILACQUA, Maria Cecília. Audiologia Educacional: uma opção terapêutica para criança deficiente auditiva. Carapicuiba-SP, Pró-Fono, 1997.
3) BOSCOLO, C.C. et.al. O deficiente auditivo em casa e na escola. São José dos Campos-SP: Pulso editorial, 2005.
4) NORTHERN, J.L.; DOWNS, M.P. Audição em crianças. São Paulo: Manole, 1989.

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